Foto de Pavel Danilyuk no Pexels/Reprodução
Plataformas digitais e energias limpas: cooperativas do ramo do transporte fazem planos para o pós-pandemia
Desde o início da pandemia do coronavírus, as cooperativas do ramo do transporte integram o esforço coletivo do setor de logística para manter as imprescindíveis cadeias de produção e abastecimento do Brasil em pleno funcionamento.
Agora, embora o país enfrente um recrudescimento da crise sanitária, o avanço da vacinação reforça as esperanças de superação do surto contagioso. E com as perspectivas de, finalmente vencer o vírus, os olhos dos transportadores, sempre na estrada, já estão vislumbrando no horizonte o futuro das cooperativas no Brasil pós-pandemia.
Atualmente com mais de 22 mil veículos em circulação e quase 100 mil cooperados, o ramo das cooperativas de transporte é o sétimo maior no país. Ele é dividido em dois grandes pilares: o transporte de cargas - que leva desde cargas pequenas, como delivery, e e-commerce, até cargas pesadas ou perigosas, como os químicos; e o transporte de passageiros - que vai desde vans escolares a táxis, mototáxis até transporte turístico.
O saldo de quase um ano de pandemia é dúbio: o transporte de cargas viu a demanda crescer cerca de 30% e fechou o ano com as contas no azul; já o transporte de passageiros, embargado pelas questões sanitárias, foi obrigado a se reinventar.
Para contornar a crise pandêmica, os automóveis que antes levavam passageiros passaram a transportar pequenas cargas, itens de delivery e produtos do e-commerce. A medida, um paliativo, naturalmente não substitui a demanda de passageiros das cooperativas, mas mostrou uma oportunidade a ser explorada pelos cooperados.
“Com a vacina e a possibilidade de retomar o normal, essas cooperativas vão se alinhar. Agora a ideia é que o transportador continue sendo de passageiro e de carga, porque queremos que seja um transportador não afunilado em um setor”, explica Evaldo Matos, presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Transportes (Fetranscoop), que reúne federações estaduais por todo o Brasil.
A orientação do atendimento à demanda de delivery e e-commerce deve caminhar lado a lado com um novo impulso no transporte de passageiros. Os planos nesta área são diversos, a começar por um aplicativo de transporte de alcance nacional. “O objetivo nosso é a criação de uma plataforma nacional cooperativa, um grande ‘Uber’, para que nós tenhamos nossa marca, um grande transporte nacional para atender ao setor de passageiros”, revela Evaldo.
A Fetranscoop de Minas Gerais, inclusive, já colocou em andamento uma iniciativa para solucionar um dos principais gargalos do setor de transporte no Brasil - o preço dos insumos. Mesmo com a alta na demanda das cooperativas do ramo de transporte e o reajuste do frete no ano passado, o custo de insumos como combustíveis, pneus e outras peças de reposição acaba por diminuir os lucros.
De olho nesta questão, a federação mineira pretende investir no que, em outras partes do mundo, tem emergido como uma realidade bem-vinda: os veículos elétricos. “Primeiro, tem essa visão de responsabilidade socioambiental, e também tem a visão de economia, menor manutenção, menor poluição”, avalia Evaldo Matos. O plano deve começar justamente com os veículos de transporte de pequenas cargas, que atendem ao e-commerce e ao delivery.
Para garantir o sucesso da empreitada, as organizações pretendem se valer do já bem-sucedido modelo de cooperação. A ideia é estabelecer uma parceria com as cooperativas de agricultura e as cooperativas de energia solar para criar uma rede de fazendas de produção de energia do sol. E, a partir daí, garantir uma cadeia própria de abastecimento do ramo cooperativo.
O projeto ambicioso, no entanto, não é plano para um futuro possível - é para já. “Estamos em estudo com a China e com os bancos também, estamos buscando linhas de crédito para a formatação dos pontos de abastecimento. Estamos no processo de cotação para aquisição dos veículos elétricos”, adianta o gestor. Com a superação da pandemia, a ideia é que a iniciativa se estenda Brasil afora e, posteriormente, alcance áreas de cargas médias e pesadas.
Para isso, os cooperados devem passar por treinamentos voltados não só para a tecnologia dos veículos elétricos, mas para a adaptação a um novo mercado que, profundamente alterado pela pandemia, não deve voltar a ser como era. Quanto a isso, Evaldo Matos não tem dúvida de que as mudanças trazidas pelas medidas de isolamento social vieram para ficar.
“As cooperativas precisam enxergar esse mercado como a grande oportunidade agora. Se não temos passageiros para transportar, temos encomendas, temos pacotes. Precisamos não simplesmente ter o conceito de transportador, mas o conceito de atendente, muito mais que alguém que transporta uma carga, mas alguém que atende à expectativa do consumidor”, conclui.
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